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sábado, 14 de agosto de 2010

Violência, Cuidado, confira antes se for possível



Relacionamento com homens narcisistas pode ser hostil e violento
Homens que acham que o mundo deve suprir seus desejos podem descontar sua frustração nas parceiras
Redação iG São Paulo com NYT | 14/08/2010 08:17

Estar ao lado de um homem narcisista pode ser mais problemático do que apenas ter que aturar conversas desagradáveis quando ele tenta roubar a cena numa mesa do bar. Uma pesquisa norte-americana indica que, quanto mais forte esse traço na personalidade de um homem, maior a hostilidade que eles demonstram contra mulheres.

 “Homens heterossexuais narcisistas ficam enfurecidos com pessoas que lhes neguem algum tipo de gratificação, que pode ser o status social, uma esposa troféu ou a satisfação sexual”, disse ao "The New York Times" o psicólogo clínico Scott Keiller, principal autor do estudo e professor de psicologia da Kent State University Tuscarawas, de Ohio. “O grupo que poderia ser mais gratificante aos homens heterossexuais são as mulheres heterossexuais. Mas, se os homens narcisistas sofrem resistência da parte delas, isso os deixa enfurecidos”, disse Keiller.
Mesmo sem atingir patamares altos o suficiente para enquadrar esses homens em um quadro patológico de transtorno da personalidade narcisista, os entrevistados que atingiram pontuação mais alta no teste de narcisismo se mostraram mais propensos a ver as mulheres como interesseiras calculistas, provocadoras que prometem sexo para seduzir os homens, mas não o cumprem, ou como predadoras sexuais, que enganam os homens e “os têm na palma da mão”, disse Keiller. O especialista completou: “Os homens narcisistas têm idéias excessivamente hostis e antagônicas sobre as mulheres”.
O psicanalista e filósofo Arthur Meucci explica que, em muitos casos, isso acaba sendo um dos fatores que podem desencadear um relacionamento violento. “Uma das características principais do narcisista é não conseguir se colocar no lugar do outro, é ver o outro como um objeto”, diz. “Isso pode causar relações violentas. O narcisista sofre muito, porque acha que o mundo deve funcionar como ele quer. Acha que a mulher deve adivinhar e suprir esses desejos e, quando isso não acontece, cria uma frustração.” A resposta a essa frustração poderia vir por meio de comportamentos agressivos contra a mulher.
Como reconhecer
Muito da personalidade narcisista pode ser provocada pela criação, acredita Meucci. “Vários fatores sociais podem desencadear o problema. Por exemplo, uma educação individualista e ausente de limites, em que o respeito à autoridade e o egoísmo não foram trabalhados na infância.”
Todas as pessoas têm algum traço narcisista, e ele é até necessário para a autopreservação, afirma Meucci. “Os bebês nascem assim, e só depois passam a reconhecer o mundo.” Mas quando o traço é exacerbado, é melhor procurar tratamento.
Discernir quando o narcisismo é exagerado é mais difícil do que parece. Diferentemente do que se pensa, o narcisista não é um poço de segurança que necessariamente se coloca como a melhor de todas as pessoas. Além de ser inseguro por natureza, ele pode manifestar esse problema de várias formas. “A depressão, por exemplo, é o puro narcisismo”, diz Meucci, explicando que o problema é também uma forma de chamar a atenção.
Para o psicanalista, as pessoas devem ficar atentas a alguns sintomas que vão além (mas não excluem) falar apenas sobre si mesmos: “O limite é conseguir se relacionar. Quando a pessoa não consegue estabelecer vínculos duradouros ou sadios, por exemplo”, afirma. Isso pode se manifestar também pela dificuldade muito grande de interagir com os demais, de criar empatia e de se preocupar com os outros.
É fácil perceber como essas características podem ser especialmente impactantes nos relacionamentos entre homem e mulher. “Os narcisistas não têm problemas com todo mundo, ou ainda com pessoas diferentes. Eles têm problemas com quem possa rejeitá-los. Eles têm problemas com as mulheres heterossexuais, pois são elas que podem vir a percebê-los, rejeitá-los e não dar a eles a atenção e adulação que eles julgam merecer”, lembra Scott Keiller.
Como a tendência, de acordo com Keiller, é que, além de causar sofrimento aos outros, eles causem a si mesmos ao afastar a possibilidade de relacionamentos afetivos, o melhor para todos é procurar tratamento.
(Carina Martins e Jenifer Goodwin)