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terça-feira, 4 de maio de 2010

Alice no Pais das "maravilhas"

"Esse Belo artigo do meu colega e de assustar o nosso belo estado,tudo em nome do desenvolvimento social"

Alice e o Estado das Maravilhas

LUIZ BORGES

     Saí desnorteado com os resultados apresentados no Primeiro Seminário sobre Agrotóxico realizadonesta semana pela Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso. Neste, foi apresentou-se de forma inédita e totalmente científica os primeiros vestígios da ação letal dos agrotóxicos em Mato Grosso. Os municípios pesquisados foram Lucas de Rio Verde e Campo Verde e os dados são alarmantes sobre os danos às espécies vivas -anfíbios, animais, flora – especialmente à água e aos homens que se contaminam pela utilização de 41 litros de “defensivo” agrícola por habitante.

    Tamanho desconforto senti, que só me restava enfiar a cara num buraco e visitar o mundo fantástico e incrivelmente surpreendente de “Alice nos País das Maravilhas”, do cineasta Tim Burton. Afinal dentre os derivados industriais das grandes corporações, prefiro os da cultura ante ao lixo produzido pelo lucro a qualquer preço das grandes corporações internacionais. Estes no mínimo promovem a reflexão, e não contamina as nuvens, enquanto os “defensivos agrícolas” colocam em curso o genocídio do povo mato-grossense.

    Alice, vivida pela atriz Mia Wasikoska, encontra-se num momento importante da sua vida. Aos 19 anos vive diante de uma difícil decisão: ou cumpre a missão costumeira reservada as mulheres da época – o casamento –, ou continua acreditando no sonho e na imaginação de um mundo libertário, recheado de aventuras. Assim como ela esquecera que aos sete anos caíra num buraco, o filme trata do retorno da desmemoriada Alice, “menina burra” como é chamada pelos surreais personagens do filme dentre outros, o Gato, a Lebre, e o amoroso Chapeleiro Maluco – Jonnhy Depp. Tão burra quanto me senti ao adentrar o mencionado seminário. Pois há mais de 25 anos isto tudo já fora prenunciado, mas tal como Alice, perdemos a memória. Ainda que seja mais um inconteste resultado da fórmula bem sucedida desenvolvida por Tim Burton e os Studios Disney (a poderosa indústria cinematográfica), neste filme o cineasta retorna a mais universal das figuras infantis criada por Lews Carol, porém com a roupagem, ritmo e clima de um livro de Edgar Alan Poe. Não é de se estranhar que este escritor fosse o preferido de Burton em sua infância quando fugia das monótonas salas de aula e se entregava ao mundo mágico dos livros. Soturnez presente em obras anteriores do cineasta: “Edward Mãos de Tesoura” (1990), “A Noiva Cadaver” (2005), "Sweeney Tood – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet" ( 2001) mas não tão inovador e humorado como “Ed Wood” ( 1994). Não fosse a presença permanente de música durante todo o filme – o que muito me incomoda nas produções americanas - “Alice” seria um filme perfeito e importante para o despertar da letargia da sociedade mato-grossense que assiste silenciosa à aplicação de um modelo letal e falido de desenvolvimento econômico na região.

Acorda Alice ou Cortem as Cabeças!

Luiz Carlos de Oliveira Borges é cineasta, pesquisador e servidor da UFMT.

Escreve às sextas-feiras no Folha 3

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